Conto: O homem de barro


 Antônio foi expulso da propriedade de um velho solitário, conhecido como “O louco de barro”, esse era seu o apelido, pois sempre estava coberto de lama. Alguns afirmavam que ele era um professor, antes de enlouquecer, não se sabia sua idade, talvez fosse o próprio Matusalém. 


Contou, na escola, aos amigos que, movido pela curiosidade, se aproximou do casebre e ouviu o velho conversando com alguém, ou alguma coisa, e disse que retornaria para investigar, mas ninguém se dispôs a tarefa, por causa do medo que tinham do velho. 


Era, numa melancólica tarde chuvosa, lá pelas duas da tarde, quando o idoso saiu por alguns segundos do interior da casa, com um machado e uma espingarda, provavelmente, para caçar algo.


 O garoto, trespassou o recinto e passou a vasculhar a casa, procurando por mais alguém, pensou - “Talvez, algum dos desaparecidos, na cidade, estivesse como prisioneiro, do lunático. Encontrou uma porta, que conduzia ao porão, toda empapada de lama, com as mãos do louco e um aviso, que dizia: “Não entre! Perigo!”. 


O menino, curioso, abriu a porta, com a chave posta na fechadura, e desceu os degraus, o mais silenciosamente que conseguiu, até chegar a um lugar vazio, cujo única coisa que permanecia era um poço, trancado com uma tampa, e, ao redor, toda sorte de velas e amuletos de proteção, além de um altar de pedra, completamente ensanguentado. 


-Oh! Magnífico! Oh, maravilhoso! Eu temia não ter o que oferecer, mas vocês trouxeram uma oferta até mim! - Era a voz do homem, envolto de lama, com uma picareta em mãos, descendo a escada. 


Antônio, não sabia o que fazer, então se escondeu atrás do altar. O velho, soltou uma gargalhada e seguiu em frente, pois o procurava:


 -Não há muito espaço, para se ocultar, garoto! Eles chegaram, preciso alimentá-los, ou todo o distrito estaria condenado! Você compreende, não é? 


-Por favor, não me machuque! 


O velho, segurou-o, pelo colarinho, e ele urinou.


 -Rapaz, entenda, são os “devoradores”, as pessoas daqui são desobedientes, então alguém tem de pagar com a vida, ontem um mendigo, uma ou outra criança, um viajante, agora você! 


O velho o largou, para abrir o poço, enquanto Antônio, aproveitando-se de sua fragilidade, o empurrou para dentro dele e usou o cabo da picareta para trancar a portinhola. Dava para ouvir o “homem de barro” clamando, enquanto, o que parecia uma legião de feras, o devorava; 


-Ah! Seu insensato! Todos morrerão! 


O menino fugiu dali. Contou a polícia, o que aconteceu, e todos riram dele, mas não por muito tempo, pois não havia motivos para gracejos, mais tarde, naquela semana, quando os devoradores começaram a carnificina no povoado. 


Publicado originalmente na antologia "Subterrâneo", disponível para compra na UICLAP.

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